sábado, 24 de setembro de 2011

Reencontros que contagiam

Padre Bruno: 'A Igreja é nossa casa'
Um reencontro todo especial entre dois amigos de seminário um ano e meio depois da ordenação. Assim foi o quinto dia da Novena de São Vicente de Paulo, celebrado pelo padre Bruno Guimarães de Miranda. Bruno e Giovanni compartilharam momentos importantes durante a formação e agora se reencontram como jovens padres, cheios de sonhos, em parte já realizados. Sem perder a linguagem jovem dos tempos de seminário, padre Bruno conta um pouco da história da sua vocação, lembrando a opção de abandonar a carreira do Direito e um namoro que já se encaminhava para o Matrimônio. E fala da satisfação de ver o entusiasmo do colega Giovanni na condução da Quase-Paróquia. Confira a transcrição da entrevista, que preserva o estilo coloquial da fala do sacerdote: 

PASCOM: O senhor é do Rio de Janeiro?

Padre Bruno: Sou nascido e criado em Niterói, tenho 34 anos, e fui ordenado no ano passado, aos 33 anos.

PASCOM: Parece que o senhor tinha uma formação adiantada em outra área antes de entrar para o seminário, não é isso?

Padre Bruno: Eu estudei Direito antes de entrar pro seminário. Sempre fui um jovem de Igreja, recebi essa formação sobretudo da minha mãe, estudei no Abel em Niterói, um bom colégio, mas eu frequentava a paróquia dos Salesianos, Nossa Senhora Auxiliadora, em Santa Rosa. Participava de grupos jovens, aí fiz vestibular, comecei a estudar Direito, né?

PASCOM: Onde?

Padre Bruno: Eu estudei na Uerj. Mas eu sempre participava da Igreja. Fui crismado em 1996, nos meus 18 para 19 anos. Quando comecei a pensar em entrar para o seminário, ali por volta de 1999, eu tinha 20  para 21 anos.  Eu estava no último ano da faculdade. Em 98, quando eu estava no quarto ano, eu já estava meio com a pulga atrás da orelha, mas ainda estava dividido. Tanto que nesse ano eu comecei a namorar uma menina, uma menina de ouro, da Igreja... Eu já tinha namorado outras antes. Aí, no último ano da faculdade, eu lembro que fiquei meio na dúvida, e tal, aí eu conversei com um padre, e ele falou: 'Olha, meu filho, eu acho que você tem que conversar com a menina que você está namorando'. A faculdade não tinha problema. Eu já estava terminando, resolvi terminar, me formei, e nessa época eu estava trabalhando no Tribunal, com um cargo de segundo grau...

PASCOM: Chegou a fazer prova da OAB, ou não?

Padre Bruno: Fiz, passei, tenho lá o certificado, mas não tenho inscrição na OAB, porque não pretendo advogar. E quando eu passei na prova eu era funcionário do TRE, servidor público, então eu não poderia me inscrever na OAB. Depois que eu pedi exoneração para entrar no seminário já poderia me inscrever, mas aí eu já não queria exercer a profissão, seria só para pagar anuidade à toa.

PASCOM: Aí o senhor entrou no seminário em que ano?

Padre Bruno: Nesse ano que eu terminei a faculdade, em 1999, eu ainda estava namorando, e aí em 2000 eu tomei a peito discernir o que eu queria. Porque não adianta eu, sei lá,  mergulhar aqui no Direito, e também esse relacionamento que já era um namoro mais sério, mais adulto, a gente conversava já sobre casamento, acho que pela primeira vez eu me vi pensando nisso, e isto talvez tenha acelerado o processo, porque, poxa, eu preciso tomar uma decisão, né? Eu conversei com ela, ela sofreu naquele momento inicial, mas a gente continuou junto algum tempo, e depois eu comecei a perceber que eu não tinha como tomar uma decisão na minha vida, por exemplo, ficar noivo dela, sem antes entrar no seminário para ver se não era esse o caminho. Quanto ao Direito eu já estava mais tranquilo. Tanto que eu pedi exoneração, em vez de espeera mais um tempinho para pedir licença sem vencimento. Eu pensei: 'não, a hora é agora, o tempo da graça é esse'. Aí quando foi mais ou menos pro meio do ano 2000, eu terminei o namoro com ela e fiquei mais livre assim, de coração. Foi difícil, mas foi decisivo para mim. E eu sabia que era o que eu tinha que fazer: pelo menos ir para um seminário, para uma casa de formação. Aí eu entrei no seminário e me identifiquei muito. Eu comecei no seminário dos salesianos, por causa da minha paróquia, e eu gosto muito daquele estilo de Dom Bosco, mas eu senti o chamado para o sacerdócio em si, não para ser salesiano. Aí eu, até por conjunturas - eu vejo a providência de Deus aí, porque foram coisas muito circunstanciais - eu já estava meio que me programando para ir com o padre da minha paróquia conhecer o seminário, lá em Minas, acho que São João Del Rey ou Belo Horizonte, não sei, e estava esperando uma data, um final de semana, mas aí nesse intervalo eu fui conhecendo o seminário de Niterói, o arquidiocesano, e me identifiquei muito com o seminário de lá, com os seminaristas, com a formação, gostei do ambiente. Eu olhava para o seminário e me via ali. Eu pensava: 'Eu acho que dá'. Lembro uma vez, num fim do ano 2000, quando eu estava bem mais voltado para a diocese, passei uma semana lá, uma convivência com os seminaristas, e aquela convivência para mim foi muito boa, e aí eu pensei: 'acho que é isso que eu quero para os próximos anos'. Aqui é o meu lugar, aqui que eu vou me formar, para ser um padre mesmo, porque eu já estava bem decidido a isso, só para confirmar.

PASCOM: Qual foi a reação da sua família?

Padre Bruno: Meus pais aceitaram bem. Meu pai no início  não gostou muito da ideia não. Ele falou: 'Não, você vai largar tudo, vai ficar sem emprego, você está quase noivo aí, você vai ter que começar tudo de novo... ser padre, de onde é que veio isso?' Mas eu já vinha alimentando no coração essa ideia de ser padre havia mais de um ano, mas eu não comentava com ninguém. Então, quando eu conversei com meus pais, essa ideia já estava bem madura, mas parecia a eles ser uma coisa surgida de uma hora para outra. Eu lembro até que primeiro eu conversei com o padre, e ele falou: 'meu filho, você precisa falar com a menina que você está namorando'. E aí eu falei, e me lembrou que foi por causa de pilha dela que eu falei com meus pais. Aí de fato eu falei com eles, mas eles na primeira vez não deram muito ouvido, até porque eu estava namorando, estava trabalhando, fazendo cursinho, essas coisas... E aí, como eu já fui mais decidido, para passar uma semana no seminário, meu pai não gostou muito, ficou com medo, receioso de eu deixar tudo, mas em nenhum momento ele brigou comigo, nada. Minha mãe também falou: 'Meu filho, se é isso que você quer, a gente te apoia'. E eu sabia disso. A felicidade dos pais é ver a felicidade dos filhos, né?  Eles foram, me levaram ao seminário, fui com a bênção deles, frequentaram o seminário, e na verdade eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles iriam acolher bem. Mas isso veio muito antes do que eu esperava, já no primeiro ano. Eu lembro do meu pai indo lá quando tinham reuniões, formações, almoço no seminário, meu pai começou a conhecer o seminário, outros seminaristas, os pais, famílias, eles se ambientaram, ficaram muito à vontade ali. Eu lembro que mais pro fim do ano teve um churrasco, e ele ajudou a fazer o churrasco, muito à vontade. Ele já estava em casa. E minha mãe também, ela sempre gostou muito do seminário. Ela meio que adotou a biblioteca do seminário, porque ela já era aposentada, e começou a ajudar a biblioteca do seminário, e ajuda até hoje. Minhas irmãs gostaram, curtiram. Os amigos ficaram um pouco surpresos, mas todo mundo deu uma força...

PASCOM: É uma família de quantos irmãos?

Padre Bruno: Eu e minhas duas irmãs.

PASCOM: E a sensação de rever o amigo de seminário, agora padre Giovanni?

Padre Bruno: Ah, muito bom! (risos) Quando ele me chamou, eu achei legal a ideia: chamar todos da nossa turma. Foi quando que você me chamou? (dirigindo-se ao padre Giovanni) Em julho, né? Por aí.   'Ah, Bruno, em setembro a gente vai fazer a festa da novena do padroeiro aqui da minha paróquia, São Vicente, e eu tive a ideia de convidar os nove colegas da turma, para todo mundo pregar.' 'Pô, cara, mas como é que vai ser isso? Vai ser muito difícil'.

PASCOM: A turma tinha nove padres que se ordenaram?

Padre Bruno:  Eram seis de Campos e três de Niterói. Aí eu falei: 'Como é que eu vou? Porque fica muito difícil, Giovanni, porque eu dependo de Dom Alano', porque eu sou secretário dele na Cúria, 'e vou depender do padre da minha paróquia, final de semana é difícil...' Aí ele botou aquela pilha: 'Não, não, vê aí, cara, só falta você...'

PASCOM: É assim que ele faz com os paroquianos (risos): 'Arruma um jeito!'

Padre Bruno: Aí eu falei: 'Tá bom, mas eu acho melhor você fazer o contrário. É melhor você me dar uma data, então. Aí ele me deu duas ou três, e aí ficou em 22, quinta. Eu conversei com Dom Alano, pedi para só trabalhar hoje até a hora do almoço e no dia seguinte só trabalhar na parte da tarde, aí ele disse 'mais para frente a gente vê'. Eu tinha falado com ele no mês passado! Falei com o padre Carmine (Carmine Pascale, pároco de São Judas Tadeu, em Niterói), e ele falou que era só agendar na secretaria, deixar programado, deu tudo certo. E a Providência agiu também, porque hoje o combinado é que eu estaria ausente da Cúria a partir da hora do almoço, mas ontem, no fim do expediente, Dom Alano me falou que hoje ele teria uma reunião em São Gonçalo e não iria à Cúria pela manhã. 'Dom Alano, já que o senhor não vai à Cúria de manhã, o senhor se incomoda se viajar mais cedo, para chegar mais tranquilo a Campos?' 'Não, meu filho, tudo bem!' Aí eu saí mais cedo de Niterói, cheguei tranquilo, e é muito legal estar aqui, ver a alegria do padre Giovanni, o entusiasmo dele. Ele me mostrou a obra, me mostrou o blog, mostrou a casa como é que era, como é que está e como é que ele vai fazer, a Igreja, como é que era, como é que está e como é que vai ficar, a rua, não sei o que, foi ali atrás comigo, quer dizer, sentir esse entusiasmo, essa boa vontade dele...

PASCOM: É meio contagiante, né?

Padre Bruno: É, a gente fica feliz, poxa, é o que a gente queria, estamos vendo nossos sonhos realizados! E esse contato com outras comunidades enriquece muito. Essa acolhida é muito legal, essa confiança que as pessoas têm sem nem conhecer, já quer convidar de novo, já cria laços. A gente experimenta um pouco aquilo que a Bíblia diz: 'Quem deixar mulher, campos, filhos, dinheiro por mim e pelo Evangelho vai ganhar cem vezes mais'. Parece que a nossa família cresce, o coração dilata, a Igreja é a nossa casa onde quer que esteja.
 
PASCOM: Acho que está de bom tamanho, né? Afinal o padre precisa jantar... (rs) Obrigado, padre, pela entrevista!

Padre Bruno: Não, tranquilo, obrigado, é uma alegria contribuir.

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